Especialista aponta que para trabalhar o tema trânsito na rede de ensino é preciso capacitar professores e adequar os métodos de abordagem conforme a faixa etária dos alunos.
Abordar educação para o trânsito no planejamento pedagógico do ensino é uma ação prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que determina, no Art. 76 do capítulo VI, a discussão da temática na pré-escola, ensino fundamental, médio e superior. Entre outros tópicos, o texto estabelece a adoção de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito e a capacitação de educadores.
O Portal do Trânsito conversou com a pedagoga mestre em Educação e especialista em psicologia do trânsito, Beatriz Rocha Araujo, para entender como abordar o tema dentro de sala de aula e qual o atual cenário e expectativas em relação à inclusão dessas discussões nas escolas brasileiras.
Dificuldades
Segundo a especialista, uma das principais carências na abordagem é a falta de estabilidade na rotina pedagógica. “Ele [o trânsito] é trabalhado esporadicamente e não de uma forma contínua e nem sistematizada. Isso deveria ocorrer por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação da União, dos Estados e do distrito federal, bem como dos municípios”, aponta a educadora.
Ainda segundo ela, a própria legislação de trânsito, apesar de mencionar a educação para o trânsito, não explicita como isso deve ser colocado em prática.
“Tem a previsão de se trabalhar o trânsito na rede de ensino, porém isso não está especificado de que forma vai acontecer”.
E esse cenário acaba influenciando em diversos fatores, como a própria falta de capacitação dos educadores dentro da sala de aula. “O professor tem muito conhecimento. Eu não sei, porém, se ele está preparado para isso, até porque a formação dele, não envolve essas questões. Existe um grande caminho para aconteça essa implementação, a forma como hoje está sendo tratado nas escolas é ideal? Acredito que não, mas no momento é o que temos”, diz.
Fases da vida escolar
A pedagoga também afirma que é necessário adaptar a abordagem de acordo com alguns aspectos presentes e específicos de cada turma.
“Se analisarmos, a criança tem aquela fase concreta que ela precisa ver, que ela precisa pegar. Quando eu falo das escolinhas de trânsito, elas muitas vezes acabam sendo concretas, porque normalmente fazem a pista para crianças andar de bicicleta, com um quebra mola, sinalização, semáforos. Então ela [a criança] aprende de uma maneira diferente. Quando se coloca a criança na cadeirinha e explicamos a ela que é uma questão de segurança, já é uma educação”, exemplifica Beatriz, destacando a importância do contexto familiar nesses pequenos diálogos do dia a dia que acabam construindo e inserindo o trânsito na formação dos pequenos.
Já entre os mais velhos, na época do ensino médio e pré-vestibular, é importante dialogar sobre temas que podem ser assunto para a idade. Como a busca pela Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e os perigos da mistura entre álcool e direção, por exemplo.
“O tema ‘trânsito’ é muito mais do que a gente pensar em decorar as placas de sinalização. Eu acho que é nesse sentido que deve se abordar o tema nas faixas etárias do ensino médio. Nesse sentido, trabalhar as questões pertinentes, o que está gerando mais curiosidade”, orienta.
Ela cita especialmente a conscientização sobre o uso da motocicleta, principalmente nas regiões Norte e Nordeste e cidades do interior. Nesses locais as fiscalizações de trânsito ainda não são tão eficientes ou suficientes. Além disso, o número de crianças e adolescentes que utilizam o meio de transporte ainda é alto. Muitas vezes até por incentivo de amigos e familiares.
Modelo de projeto para o trânsito na rede de ensino
Dentre as iniciativas que trabalham a educação para o trânsito na rede de ensino e que podem trazer bons frutos, Beatriz cita o Projeto Educa, criado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV). A especialista explica que a proposta é multidisciplinar e alinhada com a Base Nacional Comum Curricular da Educação (BNCC), do Ministério da Educação, que institui a educação para o trânsito como um tema transversal comum.
Nesse momento do projeto piloto, o Educa espera alcançar cerca de 300 mil alunos em todo o país. A distribuição do material é gratuita para alunos e professores nos municípios selecionados. Todo o conteúdo foi elaborado com alicerce na legislação de trânsito brasileiro, com direcionamento para as séries do ensino fundamental I e II, do 1° ao 9° ano.
O material, aprovado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e pelo extinto Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), atual Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), traz temas como saúde, meio ambiente, ética e cidadania. Além disso, a mobilidade urbana é o foco do programa.
FONTE: https://www.portaldotransito.com.br/educacao/a-importancia-e-os-desafios-de-trabalhar-a-educacao-para-o-transito-na-rede-de-ensino/